A queda da Inteligência

Da mesma forma, é possível que você também já tenha se colocado na situação de presentear uma criança com um desses aparelhos eletrônicos. Nesse caso, é bastante verossímil (eu mesmo já presenciei!) imaginar que antes mesmo que você pudesse pegar o manual (alguém ainda faz isso?), ela já esteja entretida assistindo Galinha Pintadinha no Netflix.

Piadinhas à parte, esse é um exemplo claro em que você se pergunta: será que as crianças de hoje em dia são gênios e os idosos lentos demais?

A hipótese pode parecer absurda, mas foi exatamente essa mesma dúvida que os pesquisadores tiveram quando pararam para analisar os resultados de testes de QI realizados no último século e descobriram que a média de pontuação da população subiu consistentemente, muito!

Foi então que elaboraram o Efeito Flynn.

Hipóteses

Em primeiro lugar é preciso dizer que apesar do aumento ser notado em todas as fases do teste, umas aumentaram mais do que outras. Em áreas do conhecimento como aritmética e vocabulário, o aumento não é tão sensível quanto no que é chamado de Matrizes Progressivas de Raven, conforme mostra o gráfico.

Por Matrizes de Raven, podemos chamar aqueles testes de associações do tipo:

Esse aspecto é muito importante de ser notado porque ele diz respeito, sobretudo, à nossa capacidade de pensar em questões abstratas, compreender símbolos e fazer conexões que não têm uma âncora tão imediata com a realidade. Segundo Flynn, esta exigência do mundo moderno é o principal componente para que tenhamos resultados tão diferentes.

Isso pode ser representado quanto observamos os ícones utilizados até hoje em meios digitais para representar as coisas: envelope de carta quer dizer email; ponteiro quer dizer horas; telefone fixo quer dizer ligações; gravata quer dizer homem (ops!);

Para facilitar o processo de aprendizado das pessoas, ainda é preciso que os símbolos tenham um lastro com objetos físicos que elas conhecem, porém, a tendência é que, com o passar do tempo, essas referências sejam perdidas e nós vamos precisar explicar para as novas gerações que um dia, quando você queria falar com alguém, era preciso pegar um papel, uma caneta, escrever, colocar dentro de um envelope, lacrar, ir até uma agência dos correios, enviar e esperar muitos dias até que a mensagem chegasse a outra pessoa e por isso que envelope é o símbolo utilizado para representar essa troca de mensagens…

Já os símbolos novos que forem surgindo vão tanto ter menos ligação com a realidade física quanto o meio digital ganhar importância e autossuficiência em nossas vidas.

Faz sentido?

Estímulos

Resumidamente, Flynn acredita que tudo pode ser explicado pela diferença de estímulos que as pessoas recebem. Ele não concorda com a hipótese de que somos mais inteligentes do que antes, mas que os estímulos que recebemos hoje estão mais alinhados com o ‘tipo de inteligência’ que os testes de QI avaliam.

Começando pelo fator genético, ele aponta que uma nutrição mais rica e adequada pode ser determinante no desempenho de crianças nos testes. Um estudo realizado em 2005 na China mostrou que crianças que tinham déficit de um nutriente muito específico – o iodo – tinham pontuações mais baixas que crianças que não tinham essa deficiência. Se apenas um elemento é suficiente para apontar variação no resultado, imagine a nutrição completa.

Os estímulos continuam na fase escolar. Como sabemos, as pessoas têm passado cada vez mais tempo em escolas e universidades sendo expostas à educação formal que é sustentada no modelo científico e, como ele mesmo diz, não há ciência sem pensamento hipotético. Sendo assim, quanto mais anos de estudo temos, mas anos de treinamento e condicionamento do nosso cérebro para um desempenho melhor nas Matrizes de Raden.

Há também uma série de influências da família e dos amigos com o qual convivemos. É aquilo que os cientistas chamam de influências do ambiente. Segundo eles, estar num ambiente onde se lê mais livros ou ser estimulado a ler desde criança pelos pais é determinante na capacidade de abstração e conexão que nosso cérebro é capaz de ter. Além disso, existe a hipótese de que: como as famílias estão tendo menos filhos, as crianças têm convivido cada vez mais com adultos, fazendo com que elas pulem etapas, aumentem o vocabulário e adquiram conhecimento formal mais rápido.

Um caso como Lisa Simpson (inteligência excepcional numa família medíocre) é muito raro.

Mas talvez o que resuma melhor a diferença de estímulo sejam as atividades profissionais. Estima-se que em 1900, somente 3% dos americanos tinham um emprego que fosse “cognitivamente exigente” e atualmente esse número subiu para 35%. Além disso, mesmo os empregos que existiam 100 anos atrás como banqueiro, fazendeiro, advogado, hoje exigem muito mais capacidade de raciocínio abstrato do que antes.

Ressalvas

Há, porém, argumentos mais céticos em relação aos testes de QI. Em primeiro lugar há a ressalva do que os cientistas chamaram de “Sabedoria do Teste”. Isso acontece quando os indivíduos que estão sendo testados sabem que estão sendo testados e, portanto, não se importam de errar as questões. Isso faz com que eles sintam menos pressão e tenham melhor desempenho.

Fora isso, há um questionamento muito sério a respeito da efetividade do teste de QI para ‘medir’ a inteligência das pessoas. Já sabemos que o teste não serve para mensurar a inteligência individual (dependendo da modalidade do teste que você fizer, os resultados podem ser diferentes), mas numa média geral eles deveriam ser efetivos, afinal, eles foram criados, sobretudo, para orientar políticas públicas de educação.

Porém, o questionamento que fica é: se os testes de QI estão indicando que as pessoas estão ficando mais inteligentes, mas nós não vemos uma legião de gênios andando por aí, talvez o teste não seja mais eficaz.

Sobre isso, um cientista colega de Flynn chamado William Dickens, resumiu: 

“Como poderia aumentar tanto, sem que a gente perceba todas essas pessoas super inteligentes andando por aí? Isso é um mistério. Mas as pessoas começaram a dizer que talvez existam pessoas mais brilhantes e elas estariam escondidas por causa da maneira como a ciência se tornou ‘especializada’ ao extremo. Eles estariam trabalhando em seus próprios campos de pesquisa, fazendo coisas incríveis, e agindo como pessoas normais e genuínas. Mas eles não são identificados como ‘gênios’.”

No fim, parece que tudo continua se tratando do que você acredita. Argumentos de ambas as partes não faltam. Ou você não é inteligente o suficiente pra perceber?

***

mundoconectado.com.br | 31 de October de 2020 19:44

A BBC News Brasil publicou uma matéria explicando um novo fenômeno em que e a geração atual está demonstrando um QI (Quociente de inteligência) mais baixo do que a anterior. 

Conhecidos como “nativos digitais”, esses são os primeiros filhos com QI inferior aos pais e estão sendo registrados em diversos países ao redor do mundo, incluindo Noruega, Dinamarca, Finlândia, Holand, França, etc. De acordo o neurocientista francês Michel Desmurget, o QI diminui proporcionalmente ao uso da TV e videogame.

Os testes de QI têm apontado que as novas gerações são menos inteligentes que as anteriores, mas ainda não há uma comprovação do porquê isso está acontecendo. Desmurget diz que a poluição e exposição a telas podem ser fatores muito influentes atualmente. A saúde, concentração e memória, que contribuem para um QI mais alto, podem ser facilmente prejudicadas por pesticidas inalados no ar e perturbação do sono, respectivamente.

O neurocientista deu outros exemplos do porquê o uso de dispositivos digitais pode afetar nossa inteligência. Quanto mais tempo passamos num computador ou celular, temos menos interações pessoais reais, a prática de outros exercícios e atividades diminuem e a qualidade do sono é reduzida. Isso resulta em distúrbios na concentração, aprendizagem e impulsividade, além do sedentarismo que pode afetar a maturação cerebral.

Teste de QI

O QI é medido por um teste padrão, mas a cada geração ele muda para acompanhar o “cenário da inteligência atual” (aspas próprias). Desde muito tempo atrás, cada nova geração superava a anterior, o que os cientistas chamam de “efeito Flynn” em homenagem ao psicólogo que descobriu o fenômeno. Mas essa tendência começou a se reverter em alguns países, principalmente nos que possuem uma socioeconomia mais forte, segundo a matéria da BBC.

A tecnologia faz mal?

O neurocientista também diz que nosso cotidiano contribui para a evolução do nosso QI. A nossa forma de vida modifica tanto a estrutura quanto o funcionamento do cérebro. Por isso, o tempo em frente a uma tela poderia diminuir o trabalho intelectual, já que não estaríamos praticando outras atividades para manter nosso cérebro sempre bem treinado em outras funções.

Apesar da análise, Desmurget defende que a revolução digital não é maléfica ou algo que deve ser interrompido. Muitas pessoas trabalham com ferramentas digitais. Softwares e soluções como a internet vieram para facilitar nossos trabalhos, interações à longa distância e cotidiano também. A crítica feita pelo neurocientista é relacionada à falta de “exercitação” do cérebro das gerações atuais, o que resultou em um QI mais baixo que a anterior pela primeira vez na história.

Michel Desmurget já trabalhou no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e na

Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos. Imagem: Reprodução/BBC Brasil

Fonte: BBC Brasil

QI da população mundial caiu nos últimos 20 anos

revistaoeste.com | 24 de December de 2020 10:46

Especialista destaca o empobrecimento da linguagem como uma das causas

Desde o pós-guerra, até o fim do século passado, o quociente de inteligência (QI) médio da população mundial vinha em ascendência constante, porém, agora, os pesquisadores comprovam que diminuiu nos últimos vinte anos em países mais desenvolvidos, fazendo com que, pela primeira vez na história, a nova geração apresente um QI mais baixo que seus antecessores.

A este fenômeno, dá-se o nome “inversão do efeito Flynn”. O efeito Flynn é o aumento constante do índice de acerto médio da população mundial nos testes de QI. Há vários fatores para o cenário de devastação intelectual. Clavé destaca o empobrecimento da linguagem como uma das principais causas.

Efeito Flynn

Em 1982, um filósofo e psicólogo da Universidade de Otago, na Nova Zelândia, chamado James Flynn observou e analisou os testes de QI realizados ao longo do último século e reparou uma coisa interessante. 

Para atingir o objetivo do teste de sempre obter uma média de 100 pontos entre os respondentes, era preciso que o nível de dificuldade subisse cada vez mais, assim, os questionários foram atualizados, em média, a cada 25 anos.

Em outras palavras, Flynn percebeu que se um americano médio fizesse o primeiro teste de QI criado ele faria 130 pontos, pontuação atribuída a pessoas geniais. Da mesma forma, se o teste atual fosse aplicado com um americano médio daquela época, sua pontuação seria de 70, literalmente um resultado esperado de deficientes intelectuais.

Tudo isso fez com que Flynn chegasse à conclusão de que o Quociente de Inteligência da população tem aumentando, em média, 3 pontos por década. E apesar do cientista ressaltar que ele não foi o primeiro a notar este padrão, tampouco quem o batizou assim: até hoje, é dado a este crescimento o nome de Efeito Flynn.

Mas o cientista não parou aí. Ele não se convenceu simplesmente de que todos nós seríamos geniais no começo do século 20, assim como não ousou concluir que qualquer pessoa nascida em 1930 é mais burra do que uma criança com problemas mentais. E a partir disso surgiram várias hipóteses para explicar o porquê desse resultado acontecer.

Resumidamente, Flynn acredita que tudo pode ser explicado pela diferença de estímulos que as pessoas recebem. Ele não concorda com a hipótese de que somos mais inteligentes do que antes, mas que os estímulos que recebemos hoje estão mais alinhados com o ‘tipo de inteligência’ que os testes de QI avaliam.

. É o que garante o escritor Christophe Clavé, em artigo publicado no jornal conservador italiano Italiaoggi. 

Sendo assim, o site da Revista Oeste selecionou os cinco principais trechos do artigo que sustentam a tese do autor.

Confira abaixo

1- “Vários estudos mostram a diminuição do conhecimento lexical e o empobrecimento da linguagem. Não é apenas a redução do vocabulário utilizado, mas também as sutilezas linguísticas que permitem elaborar e formular pensamentos complexos. O desaparecimento gradual dos tempos (subjuntivo, imperfeito, formas compostas do futuro, particípio passado) dá origem a um pensamento quase sempre no presente, limitado ao momento: incapaz de projeções no tempo.”

2- “A simplificação dos tutoriais, o desaparecimento das letras maiúsculas e da pontuação são exemplos de ‘golpes mortais’ na precisão e variedade de expressão. Apenas um exemplo: eliminar a palavra ‘signorina’ (agora obsoleta) não significa apenas abrir mão da estética de uma palavra, mas também promover involuntariamente a ideia de que entre uma menina e uma mulher não existem fases intermediárias. Menos palavras e menos verbos conjugados significam menos capacidade de expressar emoções e menos capacidade de processar um pensamento.”

3- “Estudos mostram que parte da violência nas esferas pública e privada decorre diretamente da incapacidade de descrever as emoções em palavras. Sem palavras para construir um argumento, o pensamento complexo torna-se impossível. Quanto mais pobre a linguagem, mais o pensamento desaparece. A história está cheia de exemplos e muitos livros (Georges Orwell – 1984; Ray Bradbury – Fahrenheit 451) contam como todos os regimes totalitários sempre atrapalharam o pensamento, reduzindo o número e o significado das palavras. Se não houver pensamentos, não há pensamentos críticos. E não há pensamento sem palavras.”

4- “Como construir um pensamento hipotético-dedutivo sem o condicional? Como pensar o futuro sem uma conjugação com o futuro?

Como é possível captar uma temporalidade, uma sucessão de elementos no tempo, passado ou futuro, e sua duração relativa, sem uma linguagem que distinga entre o que poderia ter sido, o que foi, o que é, o que poderia ser, e o que será depois do que pode ter acontecido, realmente aconteceu? Caros pais e professores: Fazemos com que nossos filhos, nossos alunos falem, leiam e escrevam. Ensinar e praticar o idioma em suas mais diversas formas. Mesmo que pareça complicado. Principalmente se for complicado. Porque nesse esforço existe liberdade.”

5- “Aqueles que afirmam a necessidade de simplificar a grafia, descartar a linguagem de seus “defeitos”, abolir gêneros, tempos, nuances, tudo que cria complexidade, são os verdadeiros arquitetos do empobrecimento da mente humana. Não há liberdade sem necessidade. Não há beleza sem o pensamento da beleza.”

A queda da inteligência média mundial 

Paulo Ormindo de Azevedo

Até o final dos anos 90 a inteligência media mundial, medida pelo método Flynn, vinha crescendo a três pontos percentuais por década. Este crescimento estava associado à melhoria das condições de nutrição, saúde e educação. Mas nas ultimas duas décadas ela vem caindo, especialmente nos países desenvolvidos, no que se chamou de “efeito Flynn reverso”. 

Esse fato coincide com o avanço da tecnologia digital e o uso cada vez menor da escrita. O primeiro passo para isto foi a introdução de ícones nos sistemas operacionais dos computadores. A maioria dos aplicativos têm limitações de escrita. O Tweeter só aceita 280 toques, o que não permite o desenvolvimento de um raciocínio pleno. O Instagram transfere imagens com apenas legendas, no WhatsApp se criou o “digitês”, com abreviaturas sincopadas e é cada vez mais frequente a substituição da escrita por voz. Os e-mails já trazem as repostas: “obrigado”, “confirmado”, “não concordo”, bastando clicar. Em outras palavras, estamos criando uma comunicação ágrafa, sem ou com escrita restrita.

A escrita permitiu registrar materialmente a memória e criar a História. Conservam-se tabuletas cerâmicas com escrita cuneiforme da Mesopotâmia de 3.200 aC e Gutenberg universalizou a escrita, no século XV. A memória digital é volátil e os suportes, aplicativos e drives caducam e as nuvens desabam, se não forem pagas. A correspondência civil tende a se volatizar e só restar a Historia Oficial, dos documentos publicados. 

A linguagem na internet está eliminando as flexões verbais do passado e do futuro e achatando tudo ao presente. Sutilezas expressas pelo condicional, o imperfeito e o subjuntivo estão desaparecendo e toda subjetividade morrendo. Para Lacan o inconsciente tem a estrutura do idioma. Para ele, a criança só se torna um sujeito quando aprende a língua. 

O Prof. Mark Bauerlein autor do livro “A geração burra: como a era digital torna os jovens mais estúpidos e ameaça nosso futuro”, inédito no português, diz que há indícios de que o uso de smartphones e tablets na infância já esteja causando efeitos negativos. Na Inglaterra, 28% das crianças da pré-escola (4 e 5 anos) não sabem utilizar frases completas.. 

Haverá sempre uma elite intelectual, cada vez mais concentrada, e uma massa desinformada por fake news e manipulada por políticos populistas. O empobrecimento cultural está associado à perda da memória. No filme Yesterday (2019), um rapaz quando acorda de um longo coma e toca as musicas dos Beatles ninguém as reconhece, porque no período houve um apagão de todos os computadores. A terceirização da memória e o empobrecimento da escrita implicam na incapacidade de expressar emoções e formular reflexões complexas e na obstrução da História. Não é por acaso que ditadores queimam e censuram livros.

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